by João Baldi Jr.
Essa é uma coisa que já aconteceu com quase todo cara gente boa, legal ou bonzinho. Uma noite você ouve o seu centésimo “eu gosto de você, mas só como amigo” ou o seu sexagésimo “não estou pronta pra entrar num relacionamento sério” ou o seu nonagésimo oitavo “você é legal demais” e vai dormir revoltado com a vida. Aí no dia seguinte você começa a juntar as pecinhas, vê quais são seus colegas que mais se dão bem com as mulheres, lembra que o Zé Mayer sempre tem um final feliz nas novelas, lê duas notas no R7 sobre o Dado Dolabella e pensa “é isso, eu vou virar um canalha. Aí as mulheres vão me respeitar e gostar de mim”. Infelizmente, porém, passar de cara bonzinho pra canalha não é algo fácil como, sei lá, passar de Anakin pra Darth Vader (cortam sua mão, te queimam, você senta numa cama, um cara diz “riiiise” e pronto, tá resolvido,“e cara, como você ficou bem de preto!”).
Na verdade pra um cara bonzinho é muito complicado, praticamente impossível, se tornar um canalha de verdade. Primeiro por causa dos cacoetes que você pega sendo “gente boa”, numa espécie de LER de caráter, por assim dizer. Você está acostumado a se preocupar com a garota, a ligar no dia seguinte, a dar seu telefone verdadeiro, a responder de forma sincera perguntas diretas e vai ser muito complicado fazer a transição para coisas como não ligar, não se preocupar, dar o antigo telefone do seu pai (de outro estado e já cancelado) e perguntar de forma direta se ela vai querer transar hoje ou você vai ter que ir conversar com outra pessoa. E claro, mesmo se você fizer isso a sua consciência (que ainda é a de um cara bonzinho) vai te dizer que não, isso é errado, você foi um canalha e apenas Barney Stinson tem o direito de usar a Lei do Limão em encontros.
Também existem, é claro, as características mais inatas do cara canalha, como a confiança que ele praticamente exsuda, transpira e irradia (enquanto você apenas fica com as mãos suadas mesmo), a de que ele quase sempre é aquele cara que as garotas consideram charmoso, ainda que a gente não saiba dizer se ele é charmoso por ser canalha ou canalha por ser charmoso (e isso de ser charmoso é mais ou menos como ser vegetariano: pra nós que não somos não tem como entender de que jeito alguém consegue ser) entre tantos outros que são bem complicados de replicar, simular e que definitivamente não vão surgir do nada mesmo que seu amigo coloque um capuz e fique gritando “riiiiiise” a noite toda. (e sim, precisamos aprender a diferenciar as coisas legais e engraçadas das coisas produtivas)
Mas dentre todas essas características complicadas de imitar existem duas que são realmente complexas, que são a forma de pensar do canalha e a rotina do canalha. Afinal, o canalha deve (ao menos teoricamente) pensar da mesma forma que um predador bem treinado: onde você vê garotas ele vê alvos, onde você vê um papo inocente ele vê o começo de uma cadeia de fatos que levará inevitavelmente a sexo sadomasoquista numa banheira e onde você um possível relacionamento ele vê, sei lá, um sabre de luz portado por um ninja assassino. Ou algo assim. Da mesma forma a rotina dele é focada apenas no processo de conquista, porque boa parte do tempo dele é dedicado a conseguir garotas, seja pelos meios que for. Ou seja, canalhas não tem tempo pra maratonas de Lost, canalhas não atualizam seus blogs (ou se fazem, é de forma muito esparsa e apenas com vídeos e fotos), canalhas não sabem o que está acontecendo em Brightest Day ou Heroic Age (e como assim ressuscitaram o Aquaman, hein? pra que? pra matar ele de novo semana que vem?) e sério, canalhas não fazem campeonatos de X-Box no meio da semana. Não, nem mesmo Fifa, meu caro.
E disso ficam 3 lições importantes pra vida de qualquer cara “bonzinho”: ser canalha é mais complicado do que parece, ser um cara legal te ajuda a estar em dia com seus quandrinhos e seriados e…bem, canalhas podem ter mais sorte com as mulheres mas você sempre poderá descontar isso surrando-os impiedosamente no Marvel VS Capcom (quando eles tiverem tempo pra isso).
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J, você escreve o que eu penso. Isso não vale.