
Tornou-se uma atriz e dançarina do Casino de Paris com o nome artístico de Helene de Nice e se tornou Hellé-Nice (em inglês nasce o trocadilho, intencional). Conquista o sucesso e a popularidade, contrata empresário, vira modelo, posa nua, enriquece rapidamente, adquire uma casa luxuosa e um iate. Transforma-se em celebridade em toda a Europa.
Apaixonou-se pelos automóveis velozes e levou uma vida, digamos, “fácil”. Seus relacionamentos eram breves, o fato de ser rica e bem sucedida afastava os pretendentes. Houv

Na Paris daquele tempo organizavam-se numerosas competições de automóveis, e Hellé participou de um organizado para as celebridades da época, pilotando um carro de


Ao retornar para Paris em um café no Champs-Élysées, o Barão Philippe de Rothschild aproxima-se e se apresenta, tornam-se amantes. Rotschild pilotava Bugatti's nas corridas e apresenta a Hellé o sofisticado Ettore Bugatti, um dos mais exclusivos fabricantes de automóveis franceses de todos os tempos. Ettore Bugatti vê em Hellé-Nice a oportunidade de introduzi-la nas corridas para competir no mundo masculino.

Sonho de correr
Hellé realiza o seu sonho em 1931 pilotando um Bugatti T37 A, estreando no Circuit Du Dauphiné em Grenoble, larga e sétimo e mantém a posição até o final. Neste mesmo ano participa de cinco Gran Prix da França e também na mais importante corrida de toda a Europa o Gran Premio di Monza.
Ela ama cada minuto de sua vida principalmente pelo fato de estar competind


Até 1936, a piloto engrossa sua participação em competições. Nesse mesmo ano, Hellé vem ao Brasil para o IV Grande Prêmio da Cidade do Rio de Janeiro (Circuito da Gávea). Mais conhecido com “Trampolim do Diabo” o Circuito da Gávea por suas mais de 100 curvas em piso irregular era o verdadeiro teste de perícia para qualquer piloto. Esta prova marcou a vinda de pilotos importantes, competidores de grande peso nas corridas internacionais.
Em 12 de julho, Hellé-Nice corre no I Grande Prêmio Cidade São Paulo, a corrid

Em apenas quarenta e cinco dias, as autoridades paulistas e o Automóvel Clube B

Hellé-Nice pilotava seu Alfa Romeo azul, mas não integrava a equipe Alfa Romeo, era uma corredora independente. O grid de largada foi idealizado na formação 3-2-3 e a ordem de largada foi por sorteio, Hellé-Nice ocupa a sétima fila ao lado de Domingos Lopes (BR) e Carlo Pintacuda (ITA).
A corrida

Saindo da décima posição, Chico Landi passa à frente na primeira volta. Da mesma maneira espetacular, o favorito Pintacuda passa em oitavo e a badalada Hellé-Nice em terceiro, enquanto Marinoni, mais discreto, em 15º lugar.
Marinoni roda, cai para último, mas na quarta volta já é o 2º com Pintacuda liderando desde a volta anterior. A pouca potência do Fiat de Chico Landi o renegou ao 5º posto.
O italiano Marinoni roda de novo entre a Rua Canadá e Av. Brasil, danifica seu carro e perde posições ao ter que descer do carro para fazê-lo prosseguir na prova.
Com isso, a sensação Hellé-Nice assume o 2º posto seguida do brasileiro Manuel de Teffé. Na 6ª volta, o líder Pintacuda começa a se afastar dos outros concorrentes, enquanto a segunda colocada, Hellé-Nice, passa a ser pressionada por Teffé. Hellé-Nice para na 50ª volta para por gasolina e água, o que a faz perder o 3º posto para Teffé na 52ª volta. A partir daí, a francesa tem 30" de desvantagem para o brasileiro e novamente empolga a multidão

Depois da reta oposta, Hellé-Nice tinha 5" de desvantagem para Teffé e continuava a se aproximar do brasileiro em busca da 3ª posição. Ambos tinham duas voltas de desvantagem para o líder e uma para o 2º colocado. Na curva da Av. Brasil esquina da Rua Atlântica, Teffé abriu demais, perdeu tempo e Hellé-Nice emparelhou com ele. Ao entrar na reta final da Av. Brasil, Teffé ganhou distância. Atravessaram a Rua Colômbia. Às 11h59min, Pintacuda atingiu a linha de chegada para vencer a prova a uma média de 104,45 km/h. Aí a população se agitou para melhor enxergar a disputa entre Teffé e Hellé-Nice, pelo 3º lugar.
Faltavam poucos metros para a chegada, quando Teffé foi para o lado direito da pista.
O acidente
A grande emoção estava reservada para o final da prova quando Hellé-Nice disputava o terceiro lugar com Manuel de Teffé, forçando a ultrapassagem em diversos pontos do trajeto. Em uma dessas tentativas as rodas dos carros se tocaram e Hellé-Nice decolou com seu Alfa Romeo sobre o público presente.
A consequência foi desastrosa, três mortos e 30 feridos. Entre as vítimas fatais, um soldado que absorveu o impacto do corpo de Hellé-Nice na queda ao ser lançada dez metros para fora do carro.
As versões sobre este acidente suscitam discussões até hoje. Segundo Wilson Fittipaldi, pai de Emerson e Wilsinho, que estava presente na época com 16 anos, Manuel de Teffé fechou de maneira irregular o carro de Hellé-Nice, provocando o acidente "Ele não admitia ser ultrapassado por uma mulher”. Outras versões chegam a citar um fardo de feno jogado no meio da pista ou um espectador que a teria atravessou, Hellé-Nice tentou e perdeu o controle do carro.
Hellé-Nice ao depor não se lembrava do momento do acidente. Ela teve concussão cerebral, escoriações no rosto, contusão no cotovelo e na região escapular. Foi internada no Sanatório Santa Catharina, com boa recuperação e, dias depois, recebeu alta médica.
Apesar das acusações contra Manuel de Teffé, formalizada também pelo mecânico de Hellé-Nice, o brasileiro não foi considerado culpado. Devido ao acidente e ao fato de alguns carros que não poderem cruzar a linha de chegada, somente seis carros foram oficialmente classificados. Helle ficou com o 4º lugar.
A repercussão do acidente no Brasil
Diversas entidades e órgãos do estado se manifestaram em solidariedade às vitimas e parentes das vítimas do acidente. Organizaram arrecadações para doar a todos envolvidos e a Hellé-Nice, inclusive para a recuperação de seu automóvel. Um site inglês cita que as autoridades brasileiras se responsabilizaram pelo acidente, falta de segurança, pagando uma grande soma indenizatória à piloto francesa. Segundo informações de contatos do meio antigomobilista, o Alfa Romeo de Hellé-Nice permaneceu no Brasil, apreendido pelo DETRAN de São Paulo. Um conhecido colecionador paulista adquiriu o automóvel. Com as partes que sobraram construiu um híbrido e o restante das peças que se pulverizaram estão em um museu no interior paulista.
Hellé-Nice é vista como heroína pelo povo brasileiro, seu pseudônimo foi disputado pelas futuras mães que a homenagearam registrando suas filhas como Helenice ou Elenice.
As tentativas para voltar a correr os grandes prêmios
O terrível acidente em São Paulo marcou definitivamente a vida de Hellé-Nice, mas com o passar do tempo ela começou a arquitetar a sua volta às pistas. Em 1937 ela arrisca a sua volta na esperança em participar da Mille Miglia na Italia e no Trípoli Grand Prix na Líbia, este último oferecia uma grande soma em dinheiro como prêmio. Encontrou sérias dificuldades em obter apoio suficiente para oficializar o seu retorno.
Às vésperas da Segunda Guerra Mundial, Hellé-Nice retoma as competições participando do trial endurance para mulheres organizado pela companhia petrolífera Yacco em Montlhéry na França. Seu desempenho é notório. Guiou por dez dias e dez noites, quebrando dez recordes em um mesmo dia. Nesta prova Hellé se revezava com mais quatro mulheres.
Pelos próximos dois anos ela competiu em ralis na esperança de voltar a correr pela Bugatti. No entanto, em agosto de 1939 seu grande amigo Jean Bugatti morre em um acidente ao testar um novo modelo Bugatti. Um mês depois, começou a Segunda Guerra Mundial. Em 1943 durante a ocupação das tropas nazistas na França, Hellé-Nice se recolhe em sua residência em Paris, mas a sua vida torna-se insuportável e ela decide fixar residência em Nice. Leva consigo um de seus amantes durante todo o período da guerra.
O início do fim de Hellé-Nice
Em 1949 é anunciado o primeiro Rallye de Monte Carlo do pós-guerra e Hellé-Nice se inscreve para a prova, sua grande chance de voltar segura e confiante. Em uma grande festa organizada para comemorar a volta da competição, Louis Chiron, o filho predileto de Mônaco, várias vezes campeão de Gran Prix, repentinamente atravessa o salão e em voz alta acusa Hellé-Nice de ser colaboradora da Gestapo durante a guerra. Naquele tempo uma acusação como essa poderia arruinar a carreira de qualquer um, vindo do poderoso Louis Chiron era muito pior, não havia nem a necessidade de apresentar provas.
A consequência foi a pior possível, Hellé não conseguiu participar deste rali, perdeu patrocinadores, os amigos, conhecidos e o amante a abandonaram completamente, seu sócio suíço investiu mal o seu dinheiro. Seu nome caiu no esquecimento assim como toda a sua história de vitórias e feitos notáveis desapareceram por completo, ela foi varrida da memória de todos.
Em sérias dificuldades financeiras foi obrigada a aceitar a caridade de uma organização de Paris, La Roue Tourne, criada para dar assistência aos artistas do teatro antigo em estado de abandono. A situação de Hellé-Nice piorou quando morre sua mãe e sua irmã mais nova, Solange, toma posse dos bens, o que não é muito, negando totalmente auxílio a Hellé-Nice.
Uma mulher que brilhou como poucas no século XX, pioneira e corajosa, participou de mais de setenta provas automobilísticas, passou seus últimos anos de vida em um apartamento invadido por ratos num beco da periferia de Nice, por vergonha e medo em ter sua identidade descoberta, usava um nome fictício. Afastada da família por anos, em 1984 aos 84 anos de idade morreu sem amigos, sem dinheiro e completamente esquecida pelas pessoas ricas e fascinantes que integravam os Grandes Prêmios da França. Mariette Helen Delangle foi cremada, a organização parisiense de caridade custeou a cremação e enviou as cinzas para sua irmã na aldeia de Saint-Mesme onde seus pais estavam sepultados.
No tumulo da família o nome de Hellé-Nice não está mencionado na lápide. As acusações de Louis Chiron nunca foram comprovadas. A escritora Mirnada Seymour, autora da biografia de Hellé-Nice, pesquisou a fundo a procedência desta acusação. Em documentos oficiais enviados por Berlim pelas autoridades alemãs, Hellé-Nice nunca foi uma agente da Gestapo.
O caluniador
O causador de toda esta desgraça na vida de Hellé-Nice, o piloto Louis Chiron, que dividiu a pista com ela em diversas competições, nunca pagou pelo seu crime. Com essa atitude repulsiva, fica claro seu preconceito e a inveja em relação a Hellé. Chiron era conhecido por sua arrogância e egocentrismo. Existe uma citação da ira de Chiron por ela ter vivido em relativo luxo na Riviera Francesa durante o período da guerra. O piloto, por ter sido membro da Resistência Francesa, direcionou suas suspeitas para Hellé-Nice.
Impune, esse senhor corre pela última vez no Grande Premio de Mônaco, em 1955, e conquista o recorde como o piloto mais idoso a participar de um campeonato mundial, aos 55 anos de idade.
O livro e a Fundação Hellé-Nice
Graças à escritora norte- americana Miranda Seymour, o mundo começa a conhecer a apaixonante história da espetacular Mademoiselle Hellé-Nice. O livro The Bugatti Queen, lançado em 2004, despertou o interesse da mídia e inspira projetos como a The Hellé-Nice Foundation, criada em 2008 por Sheryl Greene, em Atlanta, nos Estados Unidos. Esta fundação visa captar recursos para financiar jovens mulheres que queiram iniciar a carreira de pilotos no automobilismo.
Este artigo é intencionalmente publicado no mês de março em homenagem ao Dia Internacional da Mulher. A todas as mulheres que ousam superar seus próprios limites, deixando marcas como exemplo de determinação e coragem, nosso muito obrigado.
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Fonte: Revista Web Motors
Essa é minha pequena homenagem à Dona Helle Nice, mãe da Ana, minha ex-esposa... Que Deus a tenha em bom lugar, por que ela merece...
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