sábado, 19 de fevereiro de 2011

A era de um minuto


Por Dr. Alessandro Loiola

Antibióticos que matam infecções até na casa do seu vizinho, células-tronco que curam o incurável, cirurgias complexas feitas com incisões mínimas. Os avanços médicos seguem em uma progressão alucinante, como se a fonte da juventude estivesse na próxima esquina. E a próxima esquina nunca pareceu estar tão próxima.

Durante uma dessas avalanches de notícias científicas, me dei conta de algo incômodo. Percebi que, para além da Era dos Milagres da Biotecnologia, estamos correndo a toda velocidade na Era da Filosofia de 1 Minuto. Este padrão de conduta – quase uma seita – vem se impregnando profundamente em nosso comportamento.

Chefes, empregados e casais
Por exemplo: sabe o que faz com que os chefes troquem os funcionários que ainda não se adaptaram por funcionários novos que não se adaptaram ainda? Exatamente, ela, a Filosofia de 1 Minuto. A essência está na rapidez: o sujeito deve vir acabado, sem bordas ou arestas, prontinho para ser colocado na engrenagem.

A Filosofia de 1 Minuto também vem estendendo seus tentáculos na vida conjugal. Os casamentos parecem durar menos que a Lua de Mel. Você mal se encontrou nas fotos da festa – “puxa, olha como eu estava mais magro!” – e eles já estão terminando tudo porque ela ronca ou faz barulho quando mastiga, ou ele não corta as unhas do pé e conversa apontando com o garfo durante as refeições.

Inebriados pela filosofia, os jovens casais querem encontrar no outro uma sandália que não desgasta, não tem cheiro e não solta as tiras. E, de preferência, que esteja (sempre) à disposição para uma massagem relaxante no final do dia. Se não for assim, bom, paciência. A fila anda. Que venha o próximo pretendente a cônjuge-minuto.

Médicos
A medicina não poderia passar impune pelos males destes novos tempos. Na verdade, ela está repleta de queixas e sindicâncias contra médicos que não resolveram o problema do paciente utilizando as fantásticas técnicas de 1 Minuto.

Para quem olha de fora, médico bom é o que resolve rápido – nem que seja com altas doses de Charlatanicina associada a Embromanol. Para quem olha de dentro, a impressão que fica é de que a relação médico-paciente está fugindo da construção de um compromisso no longo prazo e se aproximando de um prato instantâneo de miojo. Sem molho.

Última hora
As pessoas passam anos empurrando a hipertensão arterial com a barriga empanzinada de sedentarismo, acham que sobrepeso é sinal de prosperidade e acreditam piamente que diabetes é aquela doença que só dá nos outros. Um belo dia, ao receberem uma receita com a conta dos anos de maus tratos ao próprio corpo, a ficha cai. “Toca aí para o consultório rápido, seu motorista, que eu tenho que resolver isso hoje sem falta !”.

O sempre genial Millôr Fernandes – que, hospitalizado, escreveu em seu Twitter, na última quarta-feira (16/02), que está “melhorando lentamente” – uma vez escreveu que o defunto é o produto final da humanidade. Nós, vivos, somos apenas a matéria-prima.

Moral da história à parte, é verdade que passamos décadas nos preocupado demais com coisas que jamais acontecerão, e deixamos de prestar a devida atenção às sementes que plantamos no caminho. No derradeiro instante em que tomamos consciência, queremos tudo resolvido de imediato. Pois bem: esqueça as saídas mágicas no último minuto. Ninguém virá lhe resgatar milagrosamente de suas próprias escolhas. Acredite ou não, a isso se chama Responsabilidade.

Cuide-se, seja vigilante com sua saúde, ame sua família, viva sem preguiça, mas também sem pressa de viver. E fuja das promessas da Filosofia de 1 Minuto. Mesmo quando concretizadas, elas não duram muito mais que isso.

Ocupado
A ânsia dos habitantes do mundo moderno, que querem ver todos os seus problemas – desde os financeiros até os de saúde – resolvidos num piscar de olhos, me lembrou uma pequena parábola oriental.

Uma certa tarde, o jovem discípulo foi acometido de uma intensa infecção intestinal e correu ao único banheiro do mosteiro, mas encontrou-o ocupado pelo seu Mestre. Muito respeitoso e segurando a duras penas seus esfíncteres, o discípulo perguntou apressado:

– Mestre, quanto tempo é 1 minuto?

O mestre pensou, pensou, e respondeu lá do trono, com toda paciência:

– Meu filho, 1 minuto pode ser a Eternidade.

– E o que é a Eternidade, mestre?

– Você saberá em 1 minuto.

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Fonte Yahoo! Opinião

Perfeeeeeito!

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

O povo contra Julian A.

Por Walter Hupsel .

Não conheço quase nada de Julian Assange e um pouco sobre o WikiLeaks, uma organização sem fins lucrativos que está abalando o mundo. . Em síntese, Julian A. é o fundador do site, existente há quatro anos, que divulga informações sigilosas de suposto interesse público.

Depois de divulgar, sem muita repercussão, alguns documentos da guerra no Iraque, o WikiLeaks vazou cerca de 250.000 documentos de comunicação entre embaixadas dos Estados Unidos. Foi o bastante para que uma implacável caçada ao site e ao seu fundador fosse empreendida globalmente.

Por isso o primeiro link não funciona mais. O site era hospedado em um servidor da Amazon, que, com a repercussão do caso, resolveu tirá-lo do ar. Depois disso, o PayPal, site de transações financeiras, também passou a boicotar o WikiLeaks, impedindo assim que doássemos dinheiro para este por meio dos seus sistemas.

Mais implacável ainda, as bandeiras Mastercard e Visa, que tinham contrato com a WikiLeaks, decidiram encerrar a parceria, estrangulando ainda mais a parte mais sensível do site, o financiamento (mas ambas aceitam doações para organizações inofensivas como… a Klu Klux Klan). Se quiserem ver até que ponto chegou a caçada, o banco suíço que tinha Julian A. como correntista bloqueou a conta do fundador. Querem matar o site por inanição financeira.

Ação ágil, a despeito da pretensa neutralidade suíça e os tortuosos e lentos caminhos que um país qualquer tem de enfrentar para ter acesso a dados de movimentações financeiras num banco suíço, mesmo com provas de dinheiro sujo, vindo de tráfico de drogas, de mulheres ou de armas. A mesma Suíça que relutou em procurar em seus bancos contas-corrente que financiavam a Al-Qaeda.

Paralelamente, a Suécia, onde a WikiLeaks tinha sede, emitiu um pedido de prisão para a Interpol por um suposto crime de estupro, ou transar sem camisinha – ou de ambos. A essa altura, Julian A. tinha virado um fugitivo internacional, como Joseph Mengele ou Viktor Bout. O Facebook e o Twitter deletaram os perfis de grupos de ativistas que apoiavam Julian A. Uma caçada global e impiedosa contra uma pessoa que cometeu o pior dos crimes: abrir arquivos dos Estados Unidos.

Na manhã de terça-feira (07), ele se entregou em Londres, sem direito a sursis, e ficará em custódia pelo menos por uma semana. Depois, seu futuro é incerto, podendo ser, inclusive, deportado para os Estados Unidos.

Institucionalmente, quase ninguém se manifestou sobre a arbitrariedade da prisão e o absurdo dessas ações de caça. A Repórtes sem Fronteiras manteve o mais absoluto silêncio, assim como outras entidade de defesa da liberdade de expressão. Os chefes de Estado, em geral, se apressaram para criticar o WikiLeaks, e alguns políticos, como Sarah Palin, pediram a cabeça de Julian A., literalmente. Uma das honrosas excessões foi o presidente Lula, que em discurso nesta quinta-feira (09) defendeu com veemência a liberdade de expressão e cobrou uma reação dos veículos de comunicação a favor do “rapaz” do WikiLeaks.

A reação não tardou, e pessoas em todo o mundo atacaram os sites do paypal, da Mastercard, da Visa, do sistema financeiro suíço e da Justiça sueca. Hackers do mundo todo estão sobrecarregando os servidores desses órgãos na tentativa de derrubá-los, e com relativo êxito, no que foi chamado de operação payback (Leia aqui o manifesto) , e sites-espelhos do WikiLeaks estão se proliferando na rede, divulgando as informações que esses governos, e muitos outros, não querem que sejam espalhadas.

Como disse, pouco sei quais seriam os propósitos de Julian A., se desestabilizar o governo de Obama em prol dos histéricos neo-cons ou se ele se imagina como um Codinome V, realmente lutando por transparência nas ações dos governos, com todas as contradições e idiossincrasias.

O fato é que a primeira guerra cibernética está em curso, como mostram as uniões de governos e de grandes empresas e, do outro lado, os outroras dissipados e concorrentes hackers.

A caça a Julian A. e ao WikiLeaks é uma forma de caça à rede, e as ações tendem a ser cada vez a seguir a tentativa de fechar o circuito. Como reza a 3ª Lei de Newton, caberá reações em igual intensidade e em sentido contrário.

De qualquer maneira, Julian A. ganhou a primeira batalha. Os governos agora temem a população, e não o contrário. Longe de tentarem se explicar, de debaterem o teor dos documentos vazados e o porquê das suas ações, criminalizaram a organização. Governos que, em nome de qualquer coisa, segurança nacional, do cuidar da população, se põem como altruístas, como sendo nós mesmos.

Para eles, que talvez evoquem o nosso nome num julgamento de Julian A., ou de qualquer outro criminalizado, deixo uma velha frase de Nietzsche: “O Estado é o mais frio dos monstros, da sua boca sai a seguinte mentira: Eu, o Estado, sou o povo.”

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Fonte Yahoo Colunistas

Conheça Dan Feyer, o craque das palavras-cruzadas

As câmeras estavam programadas para filmar por apenas oito minutos.

"Ah, não vai demorar tanto assim", disse Dan Feyer, insinuando um sorriso.

Arrogância, talvez? A pressão estava montada.

Feyer, 33 anos, um músico calvo e de fala mansa, estava num estúdio fotográfico do "New York Times" para demonstrar um de seus talentos mais esquisitos.

Com o relógio marcando e as câmeras rodando, ele pegou o jogo de palavras-cruzadas.

Não um jogo qualquer, mas o da edição de sábado do "New York Times" - o mais difícil da semana, notoriamente ardiloso e inteligente.

Até mesmo diabólico, diriam alguns.

Uma forma de crueldade mental.

Existem pessoas que passam horas nesse jogo, pessoas que desistem, pessoas que nem chegam perto.

E então existe Dan Feyer.

Sua mão esquerda varria as dicas enquanto a direita se agitava pela grade.

Ele apertou os lábios e fez uma careta.

Apagou algo, e rapidamente preencheu mais quadrados.

Em seguida fez uma pausa, apagou de novo, e voltou a se agitar.

Quase cinco minutos haviam se passado, e ele ainda parecia estar trabalhando no canto superior esquerdo do jogo - geralmente o início.

Ele murmurou algo e apagou mais três vezes.

Estaria em apuros? Ele escreveu alguma coisa, levantou os olhos, largou seu lápis.

Pronto.

Cinco minutos e 29 segundos.

A caligrafia, clara como a de uma freira.

Feyer, usando jeans, tênis e uma camiseta preta, nem transpirava.

Quem é esse sujeito? Que tipo de pessoa sabe o nome da esposa de Gorbachev (Raisa), um sinônimo para desprezível (ignóbil), o treinador dos Rangers em 1994 (Keenan), um elemento do grupo da platina (irídio) e o significado de objurgação (repreensão)? Resposta: o tipo de pessoa que faz 20 palavras-cruzadas por dia (pelo menos 20 mil nos últimos três anos), que venceu o Torneio Americano de Palavras-Cruzadas deste ano e que tem 100 mil palavras-cruzadas armazenadas em seu computador.

"Sinto que quero resolver todas elas, de alguma forma", disse Feyer.

"Eu provavelmente fiz mais palavras-cruzadas do que qualquer outra pessoa no mundo, durante os três últimos anos.

Não sei se isso é algo de que se orgulhar, mas é uma reivindicação de fama".

Ele tem outra vida, como pianista e diretor musical para produções teatrais.

Seus espetáculos mais recentes foram "With Glee", apresentado off-Broadway em Manhattan no último verão, e "Dracula, a Rock Opera", apresentado em Rochester, Michigan, em outubro.

"O diretor musical ensina as músicas aos atores, acompanha-os nos ensaios e conduz a banda", explicou Feyer.

"Na Broadway, diretor musical é o cara com a batuta no fosso da orquestra.

No circuito off-Broadway, é o cara sentado ao piano, conduzindo com a cabeça".

Então como esse cara se tornou um ás das charadas? Além de treinar como um atleta, disse Feyer, o que ajuda é ter "um poder cerebral de base e uma boa cabeça para trivialidades".

Ele sempre tirou notas altas, sobressaindo-se em matemática e música - habilidades que, segundo ele, andam lado a lado com as palavras-cruzadas.

O que as três coisas têm em comum, disse ele, é o reconhecimento de padrões - enquanto começa a preencher uma linha da grade, ele começa a reconhecer possibilidades para as outras palavras, mesmo sem olhar para as dicas, baseando-se apenas em algumas letras.

"Em grande parte do tempo, pessoas que fazem palavras-cruzadas são músicos", afirmou ele, apontando que Jon Delfin, que venceu o torneio sete vezes, é pianista e diretor musical.

"Matemáticos e cientistas da computação também são criadores".

Arthur Schulman, criador de palavras-cruzadas e professor aposentado de psicologia da Universidade da Virginia, que apresentou um seminário chamado "The Mind of the Puzzler" (A mente do solucionador de charadas, em tradução livre), concorda que existe uma forte correlação entre a habilidade com palavras-cruzadas e o talento para matemática e música.

Segundo ele, tudo envolve trabalhar com símbolos que, sozinhos, não possuem significado.

"Há uma conexão básica, mas não estou certo de qual poderia ser", disse Schulman.

"É encontrar significado na estrutura".

Feyer é um relativo novato no mundo das competições de palavras-cruzadas, embora gostasse de todo tipo de charadas desde a infância, quando seus pais lhe deram livros de passatempos para compensar por seu tédio na escola.

Ele cresceu em São Francisco, onde seu pai é advogado municipal de uniões e sua mãe é professora de direito.

Ele tem dois irmãos mais novos - um é consultor gerencial, e o outro é professor de inglês no Butão.

Seu avô, George Feyer, era pianista, e tocou durante décadas nos salões dos mais elegantes hotéis de Manhattan.

Feyer fez faculdade em Princeton, formando-se em música.

Ele resolveu palavras-cruzadas algumas vezes ao longo dos anos, mas não se apegou realmente a elas até ver o filme "Wordplay", de 2006, um documentário sobre palavras-cruzadas, o torneio e Will Shortz - editor de passatempos do "New York Times" e fundador e diretor do torneio.

"Eu não imaginava que existisse todo esse mundo das charadas", disse ele.

Ele comprou um livro de palavras-cruzadas, e então mais um, e começou a acompanhar blogs de palavras-cruzadas e a baixar jogos.

Antes que pudesse perceber, havia se tornado um dos aficionados.

Em 2008 ele entrou em seu primeiro torneio, no qual centenas de pessoas, num salão de baile de hotel, corriam para terminar uma série de palavras-cruzadas.

Ali estava seu nicho: o som de 700 pessoas virando páginas ao mesmo tempo o deixou extasiado.

Ele ficou em "quinquagésimo alguma coisa", disse.

Mas isso o colocou no topo da divisão de novatos à qual ele havia se classificado.

No ano seguinte, ficou em quarto.

Neste ano ele venceu, superando muitos veteranos, incluindo Tyler Hinman, o campeão dos torneios anteriores.

Seu cérebro é apinhado de factoides: nomes de músicas e bandas de rock que viveram e morreram antes de seu nascimento, os mais remotos rios e capitais, equipamentos de esportes estrangeiros, astrônomos falecidos, monarcas depostos, carros extintos, filmes antigos, heróis da mitologia, romancistas obscuros e os incontáveis outros fantasmas que assombram as mentes dos criadores de palavras-cruzadas.

Ele aprendeu seus astutos truques e armadilhas, como usar "number" (inglês para "número") numa dica em que a maioria das pessoas interpretaria como "numeral", mas na verdade querendo dizer "more numb" (inglês para "mais entorpecido", que também pode ser "number").

Ele quase foi desmontado recentemente, por uma dica pedindo por um tipo de roda.

A resposta: raio de roda.

"Passei maus bocados com essa", contou ele.

Cruel? Talvez, disse ele, mas deu de ombros e acrescentou, "Os sábados estão aí para isso".

Toda manhã, ele completa meia dúzia de palavras-cruzadas inéditas e mais algumas da coleção armazenada em seu computador.

As mais fáceis lhe tomam apenas dois ou três minutos.

Ele faz palavras-cruzadas enquanto anda de metrô e enquanto vê TV.

Ele pode fazer mais algumas antes de dormir, e até mesmo levar uma para a cama.

Ele disse que, atualmente, gasta cerca de uma hora por dia com palavras-cruzadas.

"Elas não tomaram conta da minha vida, ou algo assim", disse ele, e acrescentou: "Eu não acho".

Mesmo assim, em seu blog, Feyer descreve a si mesmo como "um músico calmo que desenvolveu um vício por palavras-cruzadas", e posta diariamente suas soluções.

Existe, segundo ele, uma competição amigável entre os principais solucionadores.

Para um jogo de segunda-feira no "New York Times", seu melhor tempo no computador foi de um minuto e 22 segundos.

No papel demora mais, um minuto e 58 segundos, talvez 59.

Seu melhor tempo de todos foi um minuto e nove segundos, para um jogo da "Newsday".

Mas ele admite que, na resolução rápida, você pode perder o momento "a-há!", e a chance de saborear uma solução inteligente.

Outro músico que trabalha na publicação de charadas ajudou Feyer a entregar trabalhos de edição e revisão, como free-lancer, para uma empresa que produz livros de passatempos, e o cadastrou para escrever um livro de caça-palavras.

Ele tentou trabalhar na criação de palavras-cruzadas, mas decidiu que, assim como se sai melhor tocando ou dirigindo músicas do que compondo, ele é melhor em resolver charadas do que em criá-las.

Mesmo assim, ele conseguiu vender algumas palavras-cruzadas, incluindo uma para o "Times"; ela será publicada numa terça-feira, um dia relativamente fácil (as palavras-cruzadas do "Times" ficam mais difíceis a cada dia, com a mais fácil na segunda-feira e a mais complexa no sábado).

Ele levou 20 horas para criá-la, parando e retomando durante seis meses.

O jornal paga 200 dólares por um jogo diário de palavras-cruzadas (ou mil dólares para o jogo grande de domingo).

Podendo escolher, ele prefere resolver palavras-cruzadas num computador.

Em competições, porém, os jogos são feitos em papel, onde as dicas são organizadas de maneira um pouco diferente.

Assim, à medida que se aproxima o torneio anual (o próximo ocorrerá em março de 2011), ele troca para o papel para estar com seu jogo afiado.

Caso contrário, disse ele, "você pode perder preciosos segundos procurando pelas dicas".

Ele escreve com uma lapiseira, do mesmo tipo que usa para marcar partituras musicais.

Ele pretende competir de novo.

"Definitivamente tentarei defender o título", afirmou ele.

Ganhar é divertido, mas é também, segundo ele, "a única forma de ganhar dinheiro com este hobby".

O primeiro prêmio é de US$5 mil.

Ele expressa uma raiva zombeteira ao dizer que os torneios de sudoku pagam bem mais - US$20 mil.

"Não sou muito bom em sudoku", explicou ele.

Ele não joga Scrabble (um tipo de jogo de tabuleiro que envolve formação de palavras).

Esse jogo difere das palavras-cruzadas no tipo de palavras usadas.

"Se eu tentasse memorizar também a lista do Scrabble, isso provavelmente arruinaria minhas chances no campeonato", disse ele.

"Meu cérebro está repleto de vocabulário de palavras-cruzadas".

Ele imagina já ter visto praticamente tudo que poderia aparecer em palavras-cruzadas.

Mesmo assim, continua colecionando-as.

"Algum dia", disse ele, "terei feito todas elas".

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O.O Vivemos num mundo estranho, Charlie Brown...

Fonte Yahoo Notícias

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Sexo oral entre morcegos e vida corporativa são estrelas do IgNobel

Carlos Orsi, do estadão.com.br

"Felação entre morcegos frugívoros prolonga a duração da cópula" é o título do artigo científico que levou uma equipe de chineses e britânicos a receber o Prêmio IgNobel de Biologia de 2010. Gareth Jones, da Universidade de Bristol, no Reino Unido, deve comparecer ao ao Teatro Sanders, da Universidade Harvard, nos EUA, para receber a honraria na vigésima cerimônia da premiação, que, segundo seus idealizadores, busca chamar atenção para "descobertas que fazem as pessoas primeiro rir, depois pensar".

J.M.Garg/Reprodução
O morcego Cynopterus sphinx, usado no estudo

Outro destaque da premiação é um artigo de pesquisadores italianos que buscaram uma forma de escapar do chamado Princípio de Peter. Proposto pelo psicólogo canadense Laurence Peter, o princípio costuma ser resumido na afirmação de que, em toda hierarquia, os indivíduos tendem a ser promovidos até atingir "seu nível máximo de incompetência".

"Embora pareça pouco razoável", escrevem os agraciados no artigo "O Princípio de Peter Revisitado: Um Estudo Computacional", "o princípio funcionaria realisticamente em qualquer organização onde o mecanismo de promoção premia os melhore membros" e onde as tarefas do nível superior são muito diferentes das do nível inferior.

O resultado é uma perda de eficiência da organização, que deixa de contar com um ótimo funcionário no nível abaixo e passa a contar com um funcionário medíocre ou ruim no nível acima. "Dentro de uma abordagem de teoria dos jogos", prosseguem Alessandro Pluchino, Andrea Rapisarda e Cesare Garofalo, da Universidade de Catânia, na Itália, "descobrimos contraintuitivamente que, para evitar tal efeito, as melhores formas de melhorar a eficiência de uma dada organização é ou promover a cada oportunidade um agente ao acaso ou promover aleatoriamente o melhor e o pior membro, em termos de competência".

Um grupo de pesquisadores japoneses volta para receber seu segundo IgNobel. Depois de serem agraciados em 2008 com o prêmio de ciência cognitiva pela descoberta de que tipo de micro-organismo que forma camadas gelatinosas, como limo, é capaz de resolver labirintos, Toshiyuki Nakagaki e Atsushi Tero recebem agora a honraria na categoria de Planejamento de Transportes, como membros da equipe que demonstrou o uso do mesmo micróbio na determinação de rotas para linhas ferroviárias.

Por sua vez, o Prêmio IgNobel da Paz vai para três britânicos que confirmaram a crença popular de que gritar palavrões ajuda a diminuir a dor.

O lado francamente satírico do prêmio aparece no de Química, concedido pela descoberta de que "óleo e água se misturam". Ele será concedido a dois cientistas americanos - que trabalharam num estudo a respeito de vazamentos de petróleo no mar -, mas também à BP, empresa responsável pelo gigantesco vazamento de petróleo no Golfo do México.

Já o IgNobel de Economia vai para os administradores das empresas Goldman Sachs, AIG, Lehman Brothers, Bear Stearns, Merrill Lynch e Magnetar, "por criar e promover novas formas de investir dinheiro - que maximizam o ganho financeiro e minimizam o risco para a economia mundial, ou para uma porção dela". Essas empresas tiveram um papel central na crise econômica que ainda atinge os EUA e a Europa.

Outros prêmios deste ano vão para uma equipe de cientistas britânicos e mexicanos que inventou um helicóptero teleguiado para coletar amostras de secreção nasal de baleias; para dois cientistas holandeses que provaram um passeio de montanha-russa alivia os sintomas da asma; para duas pesquisadoras neozelandesas que demonstraram que usar as meias para fora do sapato reduz o risco de escorregar e cair na neve; e para três americanos que provaram, por meio de experimentos, que micróbios se agarram a cientistas barbados.

A cerimônia do IgNobel tem transmissão ao vivo pelo YouTube, e ficará disponível online em http://www.youtube.com/improbableresearch. O prêmio é uma promoção da revista Annals of Improbable Research (AIR), que se define como um periódico de "humor científico". Como já é tradição, a cerimônia tem um tema, que será refletido em duas apresentações musicais. O deste ano é "bactéria".

Os ganhadores que forem a Harvard receber o prêmio - segundo a AIR, autores de oito dos dez trabalhos ganhadores confirmaram presença - terão a honraria concedida por vencedores do Nobel. Farão a entrega do IgNobel Sheldon Glashow (ganhador do Nobel de Física em 1979); Roy Glauber (Física, 2005), Frank Wilczek (Física, 2004), James Muller (Paz, 1985) e William Lipscomb (Química, 1976).

Dicas ao jovem escriba

Por Xico Sá.

Muitos estudantes e profissionais de jornalismo no começo das suas carreiras, além de curiosos em geral sobre a profissão, escrevem a esta coluna perguntando sobre livros interessantes ou fundamentais para o ofício. Com ou sem a exigência do diploma, ler ainda é o nosso melhor jeito de ter uma boa formação.

Nesse capítulo, aliás, as moças têm dado um baile nos marmanjos. Pesquisas revelam que as fêmeas são mais adeptas à leitura do que os toscos dos machos.

Deixo aí, portanto, uma modesta lista com obras que valem por um curso completo para um jornalista-escritor ou vice-versa. Principalmente aos que se interessam pelo chamado jornalismo literário:

A Alma Encantadora das Ruas – de João do Rio (disponível por diversas editoras) – O dândi carioca que sabia tudo sobre a arte de flanar pela cidade e tirar dela, ainda em 1908, belas histórias.

Um Bom Par De Sapatos E Um Caderno De Anotações – Como Fazer Uma Reportagem – de Anton Tchekhov (editora Martins Fontes). Toda a riqueza de observação e detalhes que usava nos seus contos e peças, a favor do jornalismo-literário em uma reportagem de viagem.

Balas de Estalo - Reunião de crônicas políticas e de costumes de Machado de Assis – Publicado por várias editoras.

Dez Dias que Abalaram o Mundo - John Reed (ed.Conrad) – De uma forma eletrizante, punk-rock mesmo, o autor narra os acontecimentos da revolução russa de 1917.

Paris é Uma Festa – E. Hemingway (ed.Bertrand Brasil) – As peregrinações boêmias de um dos maiores narradores americanos e a sua convivência com grandes artistas franceses. Para aprender a escrever e observar o mundinho artístico.

Na Pior em Paris e Londres - George Orwell (Companhia das Letras, coleção Jornalismo Literário) – A experiência de miserável do autor de 1984. Aula de escrita e humanismo pelos subterrâneos das cidades.

O Segredo de Joe Gould – de Joseph Mitchell (Cia das Letras) – Aula genial de como fazer um perfil de um puta personagem praticamente anônimo de NY, um desses vagabundos que vemos por e mal sabemos da sua genialidade.

Malagueta, Perus e Bacanaço – de João Antônio (ed.Cosac & Nayfi) – O universo marginal dos salões de sinuca, rodas de sambas e madrugadas nos bares. Narrativa coloquial e maldita.

Dicas Úteis para uma Vida Fútil – Um Manual para a Maldita Raça Humana – Mark Twain (ed. Relume Dumará) – Um grande almanaque com dicas de etiqueta, moda, comportamento, costumes. Tudo da forma mais mordaz possível. Pra rir e aprender.

O Perigo da Hora – O século XX nas páginas do The Nation (ed.Scritta). Textos de gênios do jornalismo e da literatura como Kurt Vonnnegut, H.L. Mencken, Gore Vidal, John dos Passos entre outros bambas.

O Livro dos Insultos - H.L.Menken (Cia das Letras) – Influência importante para muita gente no Brasil, como Ruy Castro e Paulo Francis. Por exemplo, com Menken você aprende a ser crítico, ácido e ter uma pena maldita.

Medo e Delírio em Las Vegas – Hunter Thompson (ed.Conrad) – Na lista não poderia faltar pelo menos uma obra-prima do rei do jornalismo gonzo, a forma mais maluca e ousada de contar histórias. Foi adaptado para o cinema em 1998, pelo diretor Terry Gilliam.

Sim, não esqueçam, tudo do Nelson Rodrigues, óbvio ululante.

& MODINHAS DE FÊMEA
Com vocês, Danuza Leão, falando sobre o nosso tema preferido: “Eu não trairia um marido porque, quando olhasse para ele, teria de dizer: Pô, mas esse cara é um corno!”. E eu não quero um corno como marido.

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Digamos que são referências...

Life explained by Graphs...

A Vida Explicada em Gráficos:





















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Muita coisa que faz sentido... =/

domingo, 10 de outubro de 2010

Dois pesos...

Maria Rita Kehl - O Estado de S.Paulo

Este jornal teve uma atitude que considero digna: explicitou aos leitores que apoia o candidato Serra na presente eleição. Fica assim mais honesta a discussão que se faz em suas páginas. O debate eleitoral que nos conduzirá às urnas amanhã está acirrado. Eleitores se declaram exaustos e desiludidos com o vale-tudo que marcou a disputa pela Presidência da República. As campanhas, transformadas em espetáculo televisivo, não convencem mais ninguém. Apesar disso, alguma coisa importante está em jogo este ano. Parece até que temos luta de classes no Brasil: esta que muitos acreditam ter sido soterrada pelos últimos tijolos do Muro de Berlim. Na TV a briga é maquiada, mas na internet o jogo é duro.

Se o povão das chamadas classes D e E - os que vivem nos grotões perdidos do interior do Brasil - tivesse acesso à internet, talvez se revoltasse contra as inúmeras correntes de mensagens que desqualificam seus votos. O argumento já é familiar ao leitor: os votos dos pobres a favor da continuidade das políticas sociais implantadas durante oito anos de governo Lula não valem tanto quanto os nossos. Não são expressão consciente de vontade política. Teriam sido comprados ao preço do que parte da oposição chama de bolsa-esmola.

Uma dessas correntes chegou à minha caixa postal vinda de diversos destinatários. Reproduzia a denúncia feita por "uma prima" do autor, residente em Fortaleza. A denunciante, indignada com a indolência dos trabalhadores não qualificados de sua cidade, queixava-se de que ninguém mais queria ocupar a vaga de porteiro do prédio onde mora. Os candidatos naturais ao emprego preferiam viver na moleza, com o dinheiro da Bolsa-Família. Ora, essa. A que ponto chegamos. Não se fazem mais pés de chinelo como antigamente. Onde foram parar os verdadeiros humildes de quem o patronato cordial tanto gostava, capazes de trabalhar bem mais que as oito horas regulamentares por uma miséria? Sim, porque é curioso que ninguém tenha questionado o valor do salário oferecido pelo condomínio da capital cearense. A troca do emprego pela Bolsa-Família só seria vantajosa para os supostos espertalhões, preguiçosos e aproveitadores se o salário oferecido fosse inconstitucional: mais baixo do que metade do mínimo. R$ 200 é o valor máximo a que chega a soma de todos os benefícios do governo para quem tem mais de três filhos, com a condição de mantê-los na escola.

Outra denúncia indignada que corre pela internet é a de que na cidade do interior do Piauí onde vivem os parentes da empregada de algum paulistano, todos os moradores vivem do dinheiro dos programas do governo. Se for verdade, é estarrecedor imaginar do que viviam antes disso. Passava-se fome, na certa, como no assustador Garapa, filme de José Padilha. Passava-se fome todos os dias. Continuam pobres as famílias abaixo da classe C que hoje recebem a bolsa, somada ao dinheirinho de alguma aposentadoria. Só que agora comem. Alguns já conseguem até produzir e vender para outros que também começaram a comprar o que comer. O economista Paul Singer informa que, nas cidades pequenas, essa pouca entrada de dinheiro tem um efeito surpreendente sobre a economia local. A Bolsa-Família, acreditem se quiserem, proporciona as condições de consumo capazes de gerar empregos. O voto da turma da "esmolinha" é político e revela consciência de classe recém-adquirida.

O Brasil mudou nesse ponto. Mas ao contrário do que pensam os indignados da internet, mudou para melhor. Se até pouco tempo alguns empregadores costumavam contratar, por menos de um salário mínimo, pessoas sem alternativa de trabalho e sem consciência de seus direitos, hoje não é tão fácil encontrar quem aceite trabalhar nessas condições. Vale mais tentar a vida a partir da Bolsa-Família, que apesar de modesta, reduziu de 12% para 4,8% a faixa de população em estado de pobreza extrema. Será que o leitor paulistano tem ideia de quanto é preciso ser pobre, para sair dessa faixa por uma diferença de R$ 200? Quando o Estado começa a garantir alguns direitos mínimos à população, esta se politiza e passa a exigir que eles sejam cumpridos. Um amigo chamou esse efeito de "acumulação primitiva de democracia".

Mas parece que o voto dessa gente ainda desperta o argumento de que os brasileiros, como na inesquecível observação de Pelé, não estão preparados para votar. Nem todos, é claro. Depois do segundo turno de 2006, o sociólogo Hélio Jaguaribe escreveu que os 60% de brasileiros que votaram em Lula teriam levado em conta apenas seus próprios interesses, enquanto os outros 40% de supostos eleitores instruídos pensavam nos interesses do País. Jaguaribe só não explicou como foi possível que o Brasil, dirigido pela elite instruída que se preocupava com os interesses de todos, tenha chegado ao terceiro milênio contando com 60% de sua população tão inculta a ponto de seu voto ser desqualificado como pouco republicano.

Agora que os mais pobres conseguiram levantar a cabeça acima da linha da mendicância e da dependência das relações de favor que sempre caracterizaram as políticas locais pelo interior do País, dizem que votar em causa própria não vale. Quando, pela primeira vez, os sem-cidadania conquistaram direitos mínimos que desejam preservar pela via democrática, parte dos cidadãos que se consideram classe A vem a público desqualificar a seriedade de seus votos.

Fonte: O Estado de São Paulo

Um charuto

Por Walter Hupsel . 07.10.10 - 18h27

Às vezes, disse Freud, um charuto é apenas um charuto. Esta frase é quase uma regra metodológica para as investigações da psicanálise. Se muitas coisas fazem sentido e merecem análise, algumas outras são desprovidas de significados psicanalíticos.

Um charuto pode não ter nenhuma relação com a “fase oral” ou com qualquer componente simbólico, pode ser apenas o prazer do gosto ou da nicotina percorrendo o corpo, apenas um mero charuto. A dificuldade está em separar o que é apenas um charuto e o que pode significar outras coisas.

Às vezes fico pensando se não é uma espécie de “whishful thinking” às avessas, uma paranóia minha, um medo ou uma espécie de inveja do heroísmo de tempos de trevas, aquela coisa babaca e pueril de saudades de um tempo que não se viveu. Juro que queria que fosse isso, mas a realidade insiste em me provar o contrário.

Estas eleições, que contrariando todos os institutos de pesquisa continuarão até o dia das bruxas, tem tudo para ser um divisor de águas na história brasileira. Mas estas águas não são insípidas e inodoras, são mais sujas e fétidas que as do sólido rio Pinheiros em dias de verão paulistano. Os exemplos são vários, mas ficarei com um que é paradigmático do nível de radicalidade ao qual chegamos neste pleito (e olhe que ainda só temos quatro dias de segundo turno).

Na terça-feira passada, começaram a rolar informações desencontradas que a colunista de “O Estado de São Paulo”, a grande Maria Rita Kehl, teria sido demitida do jornal por conta de um texto seu chamado “Dois pesos…”, no qual ela desconstroi os argumentos daqueles que são contra o Bolsa-Família, que querem contratar porteiros pagando R$ 200 reais por mês e ficam bravinhos porque não acham mais quem se disponha a aceitar o salário.

Mais de 24 horas depois e nenhuma confirmação ou uma negativa dos boatos por parte do jornal. Nada! Os boatos ganharam força nesse silêncio.

Esse fato, por si só, já seria revelador do tempo em que vivemos. As pessoas acreditaram que a colunista teria sido mesmo demitida por conta de uma opinião acerca de votos e escolhas legítimas. Arrisco dizer que em outros tempos isso não só não aconteceria (a demissão) como ninguém daria menor ouvido aos boatos, pois não faria sentido ter um colunista demitido por emitir uma opinião, salvo xingar seu patrão num texto publicado.

Se as pessoas acreditaram é porque para elas isso fez sentido, foi percebido como razoável e racional. A tese da demissão coube perfeitamente no contexto, sem nenhum descompasso, sem patologias ou alienação.

Tanto fez sentido racional que, ao que parece, a demissão foi confirmada na noite desta quarta-feira, pelo menos a filha dela publicou o fato num site. E numa entrevista publicada hoje no portal Terra, a psicanalista desabafa: “Fui demitida por um delito de opinião”.

Não quero apelar aqui a argumentos de autoridade (ela está entre os maiores intelectuais do país) e nem mesmo enveredar pelo caminho da liberdade que tem um jornal em só manter pessoas alinhadas à sua forma de pensar. É óbvio que os Mesquitas podem fazer o que quiserem com o seu papel impresso, inclusive jogar a credibilidade no lixo.

Mas, novamente, é revelador que a pluralidade da grande mídia tenha se restringindo tanto assim. É mais revelador ainda se levarmos em consideração que o referido artigo começava da seguinte maneira: “Este jornal teve uma atitude que considero digna: explicitou aos leitores que apoia o candidato Serra na presente eleição. Fica assim mais honesta a discussão que se faz em suas páginas.”

Maria Rita não imaginava, e nenhum de nós, que as palavras “digna” , “honestidade” e “discussão” apareceriam, com transparência e sinceridade, pela última vez nas páginas dos Mesquitas naquele sábado.

“O Estado de São Paulo” publicou o texto na véspera de uma eleição que parecia decidida. Posou de plural. A eleição se prolongou, a máscara caiu…

A única razão que vejo é o tempo, é o contexto político destas eleições. Não entendo o porque de tamanha ojeriza e bílis terem aflorado nesta disputa eleitoral (até tenho hipóteses e elas têm relação com um medo de radicalizarem contra uma figura carismática como Lula. Sem este, perderam os pudores…) Mas vejo um clima pior que o de 1989, mais sectário e mais intolerante, um clima no qual cabe, perfeitamente, a demissão de Maria Rita.

A impressão que tenho é que na grande mídia não há mais espaço para o contraditório, para opiniões divergentes, que os jornais de circulação nacional se transformaram em espaços monolíticos de expressão de uma, e apenas uma, opinião. (Lembram da demissão do editor na National Geographic?)

Não me parece destempero ou atos isolados. Este pode ser um ponto de não-retorno, um beco sem saída, e pode indicar o comportamento futuro do grandes grupos midiáticos: informações herméticas, fechadas, incólumes ao debate, não arejadas. Pode indicar a tendência da velha imprensa se tornar apenas máquinas de propaganda despudoradas e desesperadas para recuperar o poder que tiveram.

Talvez seja cedo pra arriscar como se comportarão no futuro, mas, ao mesmo tempo, esta parece ser a tendência, o potencial deletério.

Claro que, se forem verdades as minhas imaginações, novas formas de informação tomarão o lugar das velhas, numa eterna luta de gato e rato, como, aliás, já vem acontecendo.

Às vezes um charuto é apenas um charuto. Muitas vezes não! E se o charuto não for apenas um charuto, quem levou fumo não foi só a Kehl. Fomos nós!

Fonte: Yahoo! Opinião

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Pois é... Li os dois textos por coencidência, e não quero que sumam...