sexta-feira, 26 de março de 2010

3ª temporada, episódio 17

by João Baldi Jr.

Às vezes a gente estraga tudo. Estraga tudo com um trabalho, com uma pessoa, com uma situação, com uma noite, com alguma coisa. Quebramos alguma regra implícita que mantinha as coisas funcionando, ultrapassamos algum limite que nós mesmos havíamos criado pra esse tipo de situação, vamos mais longe do que deveríamos ir e estragamos alguma coisa que simplesmente não fazemos a menor idéia de como consertar (se é que existe realmente a possibilidade de consertar).Quase nunca fazemos isso voluntariamente, claro, mas em boa parte das vezes nós sabemos que o que estamos fazendo tem uma grande tendência a ferrar com algo que consideramos importante, mas mesmo assim por alguma razão absolutamente idiota e que vai parecer abissalmente mais idiota depois que tudo estiver devidamente ferrado, nós continuamos seguindo aquela linha que vai nos levar a, como eu disse no começo, estragar tudo.

Não que estragar tudo seja culpa apenas e totalmente sua. Em algumas situações você fez parte de um processo coletivo de tomada de decisões idiotas, em outros você foi colocado no meio de uma situação para a qual você realmente não tinha nenhum preparo, em alguns você simplesmente entendeu tudo errado e tomou decisões idiotas achando que elas iriam parecer corretas no fim. E claro que é só no fim que você nota que estragou tudo, porque essa não é uma percepção que você vá ter sozinho, ela vai exigir alguns momentos de contextualização e algumas informações externas que vão te dar a exata noção do quão ferrado você está em relação aquele tópico específico.

Você também pode ter atenuantes, claro. Você pode dizer que aquilo não é estragar tudo, porque em situações parecidas você não considerou que tudo estava estragado (mas nesse caso a opinião que importa não é a sua e o problema é seu se você quis ser tolerante), pode dizer que tem créditos para que isso seja relevado (mas não, não se lembram de nada certo que você fez anteriormente a essa situação em que você estragou tudo), pode dizer que existe uma boa explicação pra tudo aquilo (ainda que…não, não exista) ou pode simplesmente alegar insanidade (mas isso só funciona se o seu problema envolver algum crime previsto na constituição).

Porque o conceito exato de estragar tudo é levar o erro além do limite em que ele pode ser corrigido. É vacilar com sua namorada de uma forma que ela não vai voltar, é errar com o seu amigo de uma forma que ele diz que não quer mais a sua amizade, é decepcionar seus pais de uma forma que eles nunca mais vão confiar em você, é fazer uma besteira no trabalho que evidentemente vai te fazer perder o emprego. E claro, não é fazer todas essas coisas ao mesmo tempo, porque isso seria estragar tudo num nível épico demais e você estaria total e completamente ferrado, eu acho.

E claro, existe o dia seguinte, quando você acorda sabendo que estragou e tudo e fica pensando no que te levou a fazer aquilo e que tipo de pessoa isso te torna. Você é assim ou você agiu assim? Isso é patológico e você se tornou o tipo de pessoa que estraga as coisas? Ou você apenas foi um idiota e com esse aprendizado você vai parar de tomar certas atitudes idiotas? Porque dado o que você perdeu você tem a obrigação de tirar daí algum tipo de lição, algum tipo de ensinamento profundamente transformador que faça parecer que isso foi um aprendizado e não apenas uma idiotice. Que te faça achar que com isso você cresceu e não apenas foi um cretino. Que te faça pensar que em um dado momento a culpa de ter errado vai trocar de lugar com a sensação de que com esse erro você aprendeu alguma lição valiosa sobre você ou as pessoas e que talvez em algum momento as coisas vão se ajeitar de alguma forma parecida com a que eram antes. E claro, te faça manter em mente que não vai ser nada legal estragar tudo de novo…

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Terrível. Mas verdadeiro. Quantas vezes eu já não me senti exatamente assim? Fonte: Wrapped up in books

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